sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Lições de inovação que Hollywood ensinou para TI


Por Scott Kirsner, da CIO EUA

Assim como aconteceu com o cinema, toda a vez que os CIOs deparam-se com grandes novidades tendem a se dividir em três grandes grupos: os que abraçam a iniciativa, os que preferem preservar o antigo ou os que não se posicionam.

Fonte: CIO – 2/04/2009

A indústria cinematográfica está repleta de estrelas com competência duvidosa, mas que recebem salários milionários. Além disso, Hollywood concentra várias pessoas que defendem ideias pelo simples prazer de falar. Esse cenário diferente muito do segmento em que você trabalha, certo?

Com disputadas estreias e tapetes vermelhos, Hollywood talvez não pareça ter muito em comum com atividades bancárias, serviços de saúde ou fabricação de veículos. Mas creio que possui a mesma característica-chave de todas as grandes indústrias bem-estabelecidas: o modo de reagir a novos modelos de negócio e tecnologias.

Ao longo de mais de um século, toda vez que uma importante inovação bateu à sua porta, a indústria de cinema tratou-a como a um artista que faz um teste ruim: demonstrou frieza e a despachou. Hollywood ignorou – ou tentou manter-se a distância de – qualquer novidade que envolva som, cor, televisão, vídeos domésticos, animação por computador, edição digital e cinematografia digital. Isso aconteceu, no entanto, até ela perceber que cada revolução ajudaria a fomentar os negócios, assegurar sua relevância cultural e expandir as possibilidades criativas.

Novas ideias sempre ameaçam o ‘status quo’. De forma geral, os homens de negócio se preocupam com o impacto que elas terão sobre fluxos de receita previsíveis. Já o restante das pessoas tem receio quanto ao impacto que elas terão sobre sua posição na organização. “Será que deixarei de ser um especialista quando essa nova ferramenta ou tecnologia assumir o controle?”, perguntam-se, de forma geral, os profissionais.

Quando a inovação chega em uma indústria, esta última divide-se em três grupos: os inovadores, os preservacionistas e os em cima do muro. O primeiro grupo desenvolve, apoia e descobre aplicações para as novas idéias. Enquanto que os preservacionistas buscam manter as coisas como estão, muitas vezes combatendo os inovadores, e os demais (classificados como em cima do muro) simplesmente esperam para ver como as coisas vão acontecer.

Os CIOs, pela minha experiência, podem enquadrar-se em todos os três papeis. Algumas vezes, esse profissional é um defensor de uma nova tecnologia ou modelo de negócio. Outras vezes, apenas observa o que pode acontecer. Ou, então, faz campanha para manter as coisas como estão. Na prática, esse executivo tanto pode estimular a virtualização de storage, como pode assistir a uma guerra de padrões – sem interferir – até o fim ou, ainda, pode justificar ao departamento de vendas que é péssima ideia armazenar os dados da companhia em uma nova aplicação baseada na web, por exemplo.

A seguir, os bastidores de três filmes que representaram momentos de virada na história do cinema de Hollywood. E todos oferecem lições para quem está tentando identificar ou implementar inovações.

Cena um: abrace o risco

A maioria dos cinéfilos se lembra de “O Cantor de Jazz”, filme estrelado por Al Jolson, em 1927, que trouxe o som sincronizado para a tela de cinema. Poucos recordam que outras pessoas, entre elas Thomas Edison, já tinham tentado juntar as imagens da tela à trilha sonora. Na época, contudo, a tecnologia não era suficientemente boa — o áudio não era límpido ou saía de sincronia — e, por isso, a maior parte das pessoas concluiu que os filmes deveriam ficar mudos para sempre.

Os irmãos Warner, no entanto, foram convencidos a explorar uma nova tecnologia desenvolvida no Bell Labs da AT&T. A solução, batizada de Vitaphone, estava longe de ser perfeita. Baseava-se em discos que arranhavam facilmente e, por conta disso, exemplares novos teriam de ser encaminhados aos cinemas toda semana. Por outro lado, o modelo dependia do projetista, o qual precisaria trocar os rolos do filme e inserir o disco de áudio de forma absolutamente sincronizada.

Apesar de todas as barreiras, a Vitaphone foi adotada e mostrou-se boa o suficiente para proporcionar uma experiência nova e eletrizante aos expectadores, principalmente, quando Jolson gritou: “Vocês ainda não ouviram nada, gente!”

Com o tempo, tecnologia Vitaphone acabou sendo substituída por algo mais confiável. Mas sua adoção catapultou a Warner Bros. para o primeiro time de estúdios cinematográficos, com um lucro líquido de US$ 17 milhões, em 1929 – contra apenas US$ 2 milhões, no ano anterior. Além disso, a empresa foi premiada na primeira cerimônia do Oscar por ter introduzido os filmes sonoros.

Lição: inovar e correr riscos com inteligência são temas que andam de mãos dadas. Depois que todo mundo concluiu que os expectadores não queriam assistir a filmes com trilha sonora e que a tecnologia não era satisfatória, os irmãos Warner provaram que o pensamento convencional estava errado. A disposição para encarar o risco enriqueceu o negócio da organização e ajudou a massificar a indústria cinematográfica.

Cena dois: preste atenção no cliente

Nos anos 50, os estúdios de Hollywood se esforçaram para reagir a uma nova mídia, a televisão, que levava entretenimento gratuito à sala de estar das pessoas. Como resultado, a indústria do cinema criou diversas estratégias para proporcionar uma experiência na telona que não podia ser reproduzida em casa: com filmes em 3D (terceira dimensão) e Cinerama. Esta última técnica utilizava três projetores (e um exército de projetistas) para produzir uma imagem panorâmica e imersiva na tela.

Uma tecnologia que decolou foi o CinemaScope, desenvolvido pela 20th Century Fox. Fez sucesso porque o presidente da Fox já havia sido dono de cinema e entendia bem a preocupação com custos. A tecnologia era mais barata e mais simples do que a dos concorrentes, apoiando-se em uma lente de projetor especial que ampliava a imagem para uma tela mais larga.

A Fox disponibilizou o CinemaScope em duas versões: uma com som mono padrão e a outra, mais cara, com som surround em quatro canais. O primeiro filme do estúdio rodado nessa tecnologia foi “O Manto Sagrado”, um épico bíblico estrelado por Richard Burton. Um ano depois, metade dos cinemas dos Estados Unidos estava equipada para exibir filmes baseados nessa solução e todos os estúdios (exceto a Paramount) tinham licenciado a tecnologia da Fox.

Lição: inovações como o Cinerama talvez tenham sido mais fascinantes do que o CinemaScope, mas a simplicidade e o baixo custo, freqüentemente, geram uma vantagem de mercado insuperável. Entender a mentalidade do usuário também é crucial.

Cena três: conquiste adeptos

Ao ressuscitar sua franquia Star Wars, George Lucas decidiu projetar Star Wars: Episódio 1 – “A Ameaça Fantasma” no formato digital, para que a milésima exibição do filme fosse tão boa quanto a primeira. Lucas utilizou projetores específicos, fornecidos pela Texas Instruments (TI) e pela Hughes-JVC. Contudo, os equipamentos se mostraram temperamentais e exigiram a intervenção da tecnologia.

A companhia de George Lucas promoveu uma série de sessões experimentais, nas quais cineastas e diretores de fotografia assistiam a clipes de filmes exibidos com protótipos de projetores e davam um feedback. Após cada demo, a TI aprimorava sua tecnologia de processamento digital de luz (DLP) e a trazia de volta para mais um teste prático.

Lição: conquiste a adesão das partes envolvidas antes de implementar qualquer coisa nova. Jogar uma tecnologia no colo dos usuários sem permitir que eles tenham alguma influência sobre o modo como ela funciona é uma receita para o desastre. Hoje, Hollywood está tentando avaliar de que forma a internet e dispositivos – como os telefones celulares e o iPod– vão afetar seus negócios.

Parte da indústria cinematográfica se encontra em um estado de preservação total e reclama que as exibições de filmes não fazem sentido nas telas de dispositivos móveis com o tamanho de um biscoito. Mas apoiar a iniciativa certa, eu diria, é o que garantirá a lucratividade e a sobrevivência continuadas dessa indústria. E isso não é muito diferente do papel que um CIO desempenha em uma companhia.

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