sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Empresas precisam de qualidade para ter presente, e de inovação para ter futuro



Por Raquel Boechat e Leandro Motta Prade, Enfato Comunicação Empresarial.

Diretor executivo do GAD’Innovation e Ph.D. em Design pelo Illinois Institute of Technology, Charlez Bezerra trabalhou como consultor de inovação em vários projetos internacionais para empresas como Steelcase, Sabre Holdings e Marriott Hotels. Foi gerente de design para América Latina da Motorola e ganhou o prêmio de Ouro no IDEA Brasil’08. Palestrante do Congresso Internacional de Inovação, promovido pelo Sistema FIERGS, Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), nos dias 17 a 19 de novembro, em Porto Alegre, Charles Bezerra concedeu entrevista exclusiva para o PortalQualidade.com, onde analisa como aplicar e desenvolver a Inovação nas empresas.

Fonte: Portal Qualidade – Novembro/2008

Equipe Editorial: A Gestão pela Qualidade já foi o diferencial nas organizações. Podemos dizer que, atualmente, este é um processo fundamental e a inovação é o diferencial para o crescimento e sucesso de uma empresa?

Charles Bezerra: Acredito que qualidade e inovação são conceitos complementares. Enquanto qualidade tem a ver com a eficiência no presente e na operação, inovação tem a ver com o futuro e com a exploração do novo. Ambos são extremamente importantes na atual competição em que vivemos. Empresas precisam de qualidade para ter presente, e de inovação para ter futuro.

Equipe Editorial: Qual a sua definição para Inovação?

Bezerra: Costumo pensar em inovação como o ato de introduzir algo novo que se torna amplamente adotado. Para mim, a aceitação das pessoas é um critério importante para demarcação entre o que é inovador ou não. Também vejo inovação como o resultado de um processo multidisciplinar; uma habilidade de encontrar saídas em meio à complexidade, à capacidade de se reinventar.

Equipe Editorial: Neste momento de crise, é possível uma empresa inovar? Como pode ser este processo?

Bezerra: Acho que em ambientes de extrema competição como este em que estamos vivendo, as empresas não possuem muita escolha, precisam inovar. Trata-se de uma questão de sobrevivência, precisam inovar antes que fiquem obsoletas. Porém, falar sobre inovação não é o mesmo que fazer inovação acontecer. Para inovar, é necessário um ambiente favorável à exploração e ao debate e uma liderança atenta a novas idéias e possibilidades. Idealmente, as empresas deveriam sempre pensar em inovação, principalmente em tempos de fartura, mas isso não é o que acontece. Na maioria das vezes as crises agem como catalisadores para se tentar algo diferente.

Equipe Editorial: Dentro de uma empresa, o que deve ser prioritariamente inovador?

Bezerra: Acredito que todos os membros de uma empresa possuem um importante papel na criação de uma cultura de inovação. Mas, como os lideres sempre possuem maior responsabilidade, isto não é diferente no caso da inovação. Mobilizar uma empresa para pensar no futuro, em meio às tarefas do dia-a-dia, não é nada fácil. A boa noticia para os líderes é que hoje existem novas técnicas e métodos que podem ajudá-los na tarefa de entender o presente e pensar o futuro.

Equipe Editorial: Como fazer com que os funcionários participem do processo de Inovação?

Bezerra: Na verdade, inovação acontece na mente das pessoas. Todos da empresa podem contribuir e criar algo inovador. Assim, o desafio é exatamente ouvir e motivar as pessoas para participarem. Criar ambientes de debate e canais para que os funcionários possam sugerir novas idéias é fundamental para uma empresa se tornar inovadora. Talvez, no início, a qualidade das idéias não seja tão alta, mas com o tempo, até mesmo idéias absurdas e negligenciadas, podem ser aproveitadas e transformadas em algo inovador. Também acredito que ouvir opiniões externas é importante para as empresas, pois alguém de fora do contexto da empresa pode trazer uma opinião que não está contaminada pelas aparentes limitações e regras internas.

Equipe Editorial: A inovação pode ser incentivada pela sociedade? Como?

Bezerra: Acredito que a sociedade já vem fazendo isso. As pessoas estão mais críticas com os produtos e serviços que consomem. Se algo não funciona bem, elas sabem exercer seu poder de escolha. Antigamente, quando algo não era funcional, as pessoas achavam que elas eram o problema. Hoje, acham que o problema é a empresa. Isto é uma mudança significante e positiva. Acho que o foco deve ser no ser humano. Devemos usar nossas inovações e tecnologia a nosso favor e não nos tornarmos escravos delas.

Equipe Editorial: Qual o papel da inovação nos países em desenvolvimento?

Bezerra: Cada vez mais competência em inovação vem sendo sinônimo de desenvolvimento. O índice de competitividade global, realizado pelo World Economic Forum, coloca inovação como o estágio mais elevado que os países podem atingir. Acredito que competência em inovação deixa países, empresas e pessoas mais competitivos.

Equipe Editorial: Como os governos podem fomentar a inovação?

Bezerra: Uma política de inovação e design é um ótimo negócio para qualquer país. Já temos várias demonstrações onde a atenção do governo para este tema surtiu efeitos positivos, como, por exemplo, Estados Unidos, Suécia, Finlândia, Reino Unido e Nova Zelândia. Também estamos presenciando um grande esforço da China neste sentido, o que os deixará ainda mais fortes. Uma política de inovação, quer seja em empresas ou países, tem a ver com a capacidade de explorar as questões “para quem fazer?”; “por que fazer?” e “o que fazer? e não apenas a questão “como fazer?”. E, para isto, é necessário um equilíbrio entre pesquisa e desenvolvimento. Há várias maneiras em que governos podem acelerar competências de inovação em um país, porém a mais fundamental de todas é, sem dúvida, a educação. Acredito que inovação é o resultado de boas mentes, e boas mentes são resultado de boa educação.

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